De Caraíva, na Bahia, diretamente para Paris (sempre Paris), com trilha sonora de Jorge Aragão. Quem diria... Nessa entrevista para o blog “A casa é um rosto”, do Studio Mathinna, a brasileira Manuella Lacerda, a Manu, e o francês Arthur Albaz contam um pouco da sua história, de como se conheceram no litoral da Bahia e, mais tarde, foram parar na “Cidade Luz”, onde montaram a “casinha dos sonhos”, cheia de peças e objetos que sempre remontam a uma lembrança afetiva. Para ela, "uma casa é um conjuntão bem lindo de emoções e isso é estampado nas nossas escolhas também". Ali, no 11e arrondissement, ao lado do histórico bairro Le Marais, o casal, que também é uma parceria musical, conhece toda a vizinhança: o moço do café, o chef do restaurante grego, a moça do brechó, o barbeiro. Em casa, tem sempre comida sendo preparada no fogão. Tudo isso fica melhor com pessoas ao nosso lado. "Receber, comemorar e cantar com os nossos amigos é um dos nossos programas favoritos". Agora, a peça-chave do enxoval, a dica de ouro para aquecer as relações: invistam em uma boa roupa de cama. "Um bom lençol é melhor que muita coisa nessa vida". Palavras da Manu, confirmadas pelos egípcios.



Quem são a Manu e o Arthur?
Eu, Manuella Lacerda (Manu), sou carioca e vivi a vida inteira no Rio antes de vir pra França, há quase 5 anos, com o Arthur. Sou jornalista de formação, mas trabalho na comunicação de uma marca de moda de Paris, a Sézane. Eu Arthur Albaz, sou francês e vivi sempre me mudando pelas cidades daqui. Sempre senti que tinha o mundo pra descobrir. Sou engenheiro ambiental e músico. Nosso tempo livre é pra criar juntos, compor, cantar, ouvir o Brasil e trazer ele sempre mais pra perto.



Qual o motivo de vocês terem ido para Paris e o que fazem aí? Como se conheceram?
Eu (Manu) gosto de dizer que eu vim pra França por amor. Foi o amor mesmo que me trouxe. Se eu não tivesse encontrado o Arthur nessa vida, acredito que eu não estaria aqui. E talvez ele também não. A gente se conheceu na Bahia, lá em Caraíva (por isso o quadrinho aqui em casa). Eu estava de férias e ele, que é francês, descobrindo (e se apaixonando) pelo meu país. Um encontro salgado, regado de forró, dias inteiros na praia, pele ardendo de sol e amor.
A gente nem imaginava que iria parar aqui. Na época, em 2019, o Arthur queria ficar de vez no Brasil. Mas veio a pandemia, as novas possibilidades, a faculdade de Engenharia Ambiental dele pra terminar. Entre muitos motivos e novos desejos, viemos. E a França tá sendo um capítulo muito bonito da nossa construção como casal. Novos amigos e encontros deliciosos, uma casinha que a gente ama e a vontade de trazer o Brasil cada vez mais pra perto, enquanto compomos e cantamos. Paris tá sendo uma fase linda pra gente, mesmo sendo dois apaixonados pelo Brasil e pelo mar.



Como é a rotina de vocês em Paris?
Acordar juntos, regar as flores da varanda agora que o calor chegou, colocar uma roupa e ir tomar café na rua: sempre! Nosso ritual da manhã é o cafezinho aqui do lado de casa, conversar com o moço que já conhece a gente, dar uma volta no bairro ainda cedo antes da cidade acordar. Agora com a primavera e os dias longos, voltamos correndo do trabalho pra ver o sol se pôr da varanda, ele fica aqui com a gente até umas 20h30. Os amigos, muita música e uma cervejinha também estão sempre por aqui. Os finais de semana têm sempre mais tempo na manhã: pra colocar um disco, ficar de preguiça na cama. Fazer a 'grasse matinée', expressão francesa pra definir essas horinhas prolongadas na cama, depois de acordar, nos dias em que a gente se permite não fazer nada. Despertar sem nenhuma pressa, ir no marchézinho pra fazer as compras do final de semana, cozinhar algo bem gostoso, comer na varanda e depois andar o dia inteiro. Looongas caminhadas, dias de parque ou na beira do Sena com o violão, muitas 'brocantes' (as feirinhas de antiguidade que amamos!), mais música, ver os amigos e descobrir os bares, restaurantes, brechós e lojas de peças vintage.


O que mais gostam na casa?
A luz, a vista e, justamente, a rotina que a nossa casa faz a gente ter: acordar cedinho pra ver a rua ainda silenciosa, assistir o sol se pondo na nossa sala, levantar no fim de semana pra tomar café no 'balcon', ver o movimento da rua e aproveitar a luz que bate na cama pra ler e escrever. Mas se for pra escolher um objeto ou um cantinho, acho que seria o móvel de vinil vintage e a nossa cama. Esse móvel foi um achado e transformamos ele inteiro antes mesmo de nos mudarmos. Lixamos, pintamos, mudamos os puxadores. E é nele que vive muito da gente: todos os discos, as músicas que a gente ama e faz, um acervo muito precioso.
E a cama é onde tanta coisa acontece, né? Tanta intimidade, amor, dores, alegrias e até choros. Os momentos onde coração mais acelera, pra amar ou pra apertar de saudades. Pra além disso, tem a roupa de cama que é uma paixão minha (Manu). Um bom lençol é melhor que muita coisa nessa vida (kkk).


Como escolheram o apartamento e o bairro?
Pra ser bem sincera, Paris não permite muitas escolhas nesse sentido. Achar um bom apartamento aqui é uma bela de uma missão! Muita gente, muita procura, e muito apartamento em péssimo estado. Lógico que a gente tinha alguns critérios, e esse bairro estava entre os nossos favoritos. Mas foi sorte, insistência, muita paciência e, uma vez o contrato assinado, um belo trato pro apartamento ficar do jeitinho que queríamos! Pintamos ele inteiro, mudamos a cozinha (que era uma coisa superimportante, já que a gente ama cozinhar), o banheiro e trouxemos muito da gente pra cá. O apartamento se transformou demais entre o momento em que visitamos e agora, com a gente morando aqui. Cada móvel garimpado, cada objeto, as plantas e o cuidado diário que a gente coloca deixam ele ainda mais gostoso! E o bairro é uma delícia, fazemos tudo a pé e a gente gosta de conhecer a vizinhança! Descobrir a melhor padaria, ficarmos amigos do moço do café, do chef do restaurante grego aqui do lado, da moça do brechó, do barbeiro que já é até amigo do Arthur e por aí vai!


O que não pode faltar em uma casa “brasileira “?
Música, lógico!!! E sempre um espacinho pra dançar, sozinho ou à dois. Se for pra escolher algo a mais, plantas, um cesto de frutas e um azeite de dendê também são tiro e queda pra matar a saudade.



Falem um pouco da decoração da casa, se foi garimpo, se foi algo que veio de família, se trouxeram do Brasil ...
Casa é um conjuntão bem lindo de emoções e isso é estampado nas nossas escolhas também. Garimpar muito, juntar o que era da família (como a penteadeira de madeira e mármore) com lembranças de viagens (tem Itália, Amsterdam, Bahia e Búzios nos detalhes por aqui). Enquadrar uma foto nossa num barco ou o convite de um show especial que está pra acontecer (o dia em que conhecemos o Jorge Aragão no Circo Voador). Colocar a areia da praia onde decidimos nos casar num potinho de vidro (que fica na sala) ou a foto de um amigo talentoso de uma rua de Botafogo. Tudo isso é a gente. Tem o móvel de louças anos 70 na sala, o espelho vintage encontrado por 20 euros e as poltronas design que encontramos garimpando online. Até um dos violões foi garimpo numa 'brocante' que estava rolando aqui na frente de casa. Pra melhorar, só quando os amigos estão aqui. Receber, comemorar e cantar com os nossos amigos, é um dos nossos programas favoritos.



Respostas em uma palavra (ou mais):
O que não pode faltar numa casa: luz natural, violão e uma boa cozinha
Paris ou cidade brasileira onde viveu e por quê: Rio, depois Paris, depois Rio, depois Paris...
Lugar favorito em Paris: Difícil escolher, mas acordar e terminar o dia em casa é sempre a melhor parte
Vintage ou contemporâneo: Vintage
Cor favorita: Verde (Arthur) e Azul (Manu)
Comida favorita (de qualquer país): Muito difícil essa pra gente (kkk). Amamos muita coisa, mas um dia de cardápio perfeito pra gente seria:
Café da manhã com tapioca, bolo de cenoura e mamão
Almoço com tomates daqui da França (os melhores!!!), bobó de camarão, cervejinha gelada e pastel
Lanche com croissant pra Manu e pão de queijo pro Arthur
Jantar com um italiano bem maravilhoso
Estilo musical: Samba
Fotos: Arthur Guézou