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Uma cebola, duas vidas, várias camadas

Uma cebola, duas vidas, várias camadas

Depois de 20 anos vivendo literalmente “nas costas” do Castelo de São Jorge, em Lisboa, os companheiros Sérgio Condeço e Marco Gonçalves decidiram rumar para outras direções, cansados do excesso de turistas, Airbnbs para todos os lados e poucos vizinhos com o mínimo de intimidade para jogar conversa fora.







Trocaram uma casa de 1850 que foi restaurada e transformada num open space por um apartamento à moda antiga, com todos as divisões de uma casa tradicional. “É uma volta ao passado, com espaços definidos. Gostamos das cores originais das paredes, que foram mantidas após a mudança, e da paleta mais divertida e aconchegante”, explica Sérgio.

 


Natural de Azinhaga do Ribatejo, a cerca de 100 Km de Lisboa, Sérgio é ilustrador e proprietário do Cebola Atelier-Loja (@cebola_atelier_loja, no Instagram), um espaço para exposição e venda de peças de artistas, livros e ilustrações. Marco é psiquiatra e natural dos Açores, autodenominado “jardineiro fiel”, por ser responsável pelas plantas que habitam o apartamento.




Dos vários objetos que decoram a casa, alguns mais antigos, outros mais contemporâneos, muitos foram achados na rua, doados por amigos ou vizinhos ou mesmo comprados. A mesinha de centro que está na sala de estar, por exemplo, foi doação da vizinha do prédio atual pouco antes de ser largada em uma calçada qualquer de Lisboa. Embaixo do “presente” da vizinha, um tapete belga amarelo e azul, felpudo, propício para largar os pés depois de uma boa caminhada.





A escultura japonesa em cerâmica foi encontrada no lixo no Monte Fuji, no Japão, que ingenuamente tem desenhada a genitália na base da peça. Os pratos de parede ilustrados com fotos, do artista brasileiro Paulo Alexandre Azevedo de Oliveira, foram adquiridos no Museu Thyssen-Bornemisza, em Madri. A icônica imagem do filme La Dolce Vita passou por uma intervenção do fotógrafo Marcelo Tabach, e ganhou uma bonequinha em algum canto da obra. O candeeiro foi presente da comunicadora Inês Maria Menezes, grande amiga do casal (também entrevistada pelo blog do Mathinna).




Cada peça do apartamento remete a algum momento da vida deles, às vezes mais relevante, às vezes algo mais corriqueiro. “Há peças que nos transportam para diferentes experiências ou sentimentos, mas todas são a nossa vida, os momentos que vivemos. Pode ser uma peça achada no lixo ou uma terrina da sopa da avó do Marco. Acima de tudo, é preciso ter personalidade.



Mas “tudo o que é sólido desmancha no ar”. Em algum momento, os objetos que hoje decoram o apartamento podem ganhar um novo lar, numa autêntica sessão desapego do casal. “Acho que os dois temos apego enquanto dure. Como tudo na vida, e falando de objetos, pode haver um dia que já não nos faz sentido manter algo. Os objetos só são nossos durante períodos de tempo. Depois, e se ainda estiverem inteiros, passam para outras pessoas”, conta Sérgio.




Assim como a cebola que deu nome ao Ateliê-loja do Sérgio, com suas várias camadas, é possível dizer que o apartamento do casal é também um espaço que mistura vários estilos, onde várias histórias se cruzam, onde o velho harmoniza com o novo, o vintage com o contemporâneo, o preto e branco com as cores vivas. Mas tudo sempre com muita personalidade. “Custa-nos ver decorações que podiam ser um stand de uma loja”.

Respostas em uma palavra:

 

Comida portuguesa favorita?

Marco: Umas boas amêijoas.

Sérgio: qualquer bacalhau

 

Comida favorita em geral?

A carbonara do Marco é a melhor que conheço.

 

Um lugar favorito de Lisboa (ou de Portugal)

Qualquer ilha dos Açores.

 

Livro de cabeceira? Autor(a) favorito(a)?

O Elogio da Loucura de Erasmo de Roterdã

 

Tem algum hobby? Ou mais de um?

Não.

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