Tipo: Pratos
Prato em faiança inglesa
Tipo: Terrina
Terrina "peixe" vintage
Tipo: Petisqueiras
Petisqueira Aspargos
Tipo: Petisqueiras
Petisqueira Alcachofra
Garimpamos peças únicas, que contam histórias eternas
De Portugal para o mundo
"A Casa é um Rosto"
"Eu e você sempre"
De Caraíva, na Bahia, diretamente para Paris (sempre Paris), com trilha sonora de Jorge Aragão. Quem diria... Nessa entrevista para o blog “A casa é um rosto”, do Studio Mathinna, a brasileira Manuella Lacerda, a Manu, e o francês Arthur Albaz contam um pouco da sua história, de como se conheceram no litoral da Bahia e, mais tarde, foram parar na “Cidade Luz”, onde montaram a “casinha dos sonhos”, cheia de peças e objetos que sempre remontam a uma lembrança afetiva. Para ela, "uma casa é um conjuntão bem lindo de emoções e isso é estampado nas nossas escolhas também". Ali, no 11e arrondissement, ao lado do histórico bairro Le Marais, o casal, que também é uma parceria musical, conhece toda a vizinhança: o moço do café, o chef do restaurante grego, a moça do brechó, o barbeiro. Em casa, tem sempre comida sendo preparada no fogão. Tudo isso fica melhor com pessoas ao nosso lado. "Receber, comemorar e cantar com os nossos amigos é um dos nossos programas favoritos". Agora, a peça-chave do enxoval, a dica de ouro para aquecer as relações: invistam em uma boa roupa de cama. "Um bom lençol é melhor que muita coisa nessa vida". Palavras da Manu, confirmadas pelos egípcios. Quem são a Manu e o Arthur? Eu, Manuella Lacerda (Manu), sou carioca e vivi a vida inteira no Rio antes de vir pra França, há quase 5 anos, com o Arthur. Sou jornalista de formação, mas trabalho na comunicação de uma marca de moda de Paris, a Sézane. Eu Arthur Albaz, sou francês e vivi sempre me mudando pelas cidades daqui. Sempre senti que tinha o mundo pra descobrir. Sou engenheiro ambiental e músico. Nosso tempo livre é pra criar juntos, compor, cantar, ouvir o Brasil e trazer ele sempre mais pra perto. Qual o motivo de vocês terem ido para Paris e o que fazem aí? Como se conheceram? Eu (Manu) gosto de dizer que eu vim pra França por amor. Foi o amor mesmo que me trouxe. Se eu não tivesse encontrado o Arthur nessa vida, acredito que eu não estaria aqui. E talvez ele também não. A gente se conheceu na Bahia, lá em Caraíva (por isso o quadrinho aqui em casa). Eu estava de férias e ele, que é francês, descobrindo (e se apaixonando) pelo meu país. Um encontro salgado, regado de forró, dias inteiros na praia, pele ardendo de sol e amor. A gente nem imaginava que iria parar aqui. Na época, em 2019, o Arthur queria ficar de vez no Brasil. Mas veio a pandemia, as novas possibilidades, a faculdade de Engenharia Ambiental dele pra terminar. Entre muitos motivos e novos desejos, viemos. E a França tá sendo um capítulo muito bonito da nossa construção como casal. Novos amigos e encontros deliciosos, uma casinha que a gente ama e a vontade de trazer o Brasil cada vez mais pra perto, enquanto compomos e cantamos. Paris tá sendo uma fase linda pra gente, mesmo sendo dois apaixonados pelo Brasil e pelo mar. Como é a rotina de vocês em Paris? Acordar juntos, regar as flores da varanda agora que o calor chegou, colocar uma roupa e ir tomar café na rua: sempre! Nosso ritual da manhã é o cafezinho aqui do lado de casa, conversar com o moço que já conhece a gente, dar uma volta no bairro ainda cedo antes da cidade acordar. Agora com a primavera e os dias longos, voltamos correndo do trabalho pra ver o sol se pôr da varanda, ele fica aqui com a gente até umas 20h30. Os amigos, muita música e uma cervejinha também estão sempre por aqui. Os finais de semana têm sempre mais tempo na manhã: pra colocar um disco, ficar de preguiça na cama. Fazer a 'grasse matinée', expressão francesa pra definir essas horinhas prolongadas na cama, depois de acordar, nos dias em que a gente se permite não fazer nada. Despertar sem nenhuma pressa, ir no marchézinho pra fazer as compras do final de semana, cozinhar algo bem gostoso, comer na varanda e depois andar o dia inteiro. Looongas caminhadas, dias de parque ou na beira do Sena com o violão, muitas 'brocantes' (as feirinhas de antiguidade que amamos!), mais música, ver os amigos e descobrir os bares, restaurantes, brechós e lojas de peças vintage. O que mais gostam na casa? A luz, a vista e, justamente, a rotina que a nossa casa faz a gente ter: acordar cedinho pra ver a rua ainda silenciosa, assistir o sol se pondo na nossa sala, levantar no fim de semana pra tomar café no 'balcon', ver o movimento da rua e aproveitar a luz que bate na cama pra ler e escrever. Mas se for pra escolher um objeto ou um cantinho, acho que seria o móvel de vinil vintage e a nossa cama. Esse móvel foi um achado e transformamos ele inteiro antes mesmo de nos mudarmos. Lixamos, pintamos, mudamos os puxadores. E é nele que vive muito da gente: todos os discos, as músicas que a gente ama e faz, um acervo muito precioso. E a cama é onde tanta coisa acontece, né? Tanta intimidade, amor, dores, alegrias e até choros. Os momentos onde coração mais acelera, pra amar ou pra apertar de saudades. Pra além disso, tem a roupa de cama que é uma paixão minha (Manu). Um bom lençol é melhor que muita coisa nessa vida (kkk). Como escolheram o apartamento e o bairro? Pra ser bem sincera, Paris não permite muitas escolhas nesse sentido. Achar um bom apartamento aqui é uma bela de uma missão! Muita gente, muita procura, e muito apartamento em péssimo estado. Lógico que a gente tinha alguns critérios, e esse bairro estava entre os nossos favoritos. Mas foi sorte, insistência, muita paciência e, uma vez o contrato assinado, um belo trato pro apartamento ficar do jeitinho que queríamos! Pintamos ele inteiro, mudamos a cozinha (que era uma coisa superimportante, já que a gente ama cozinhar), o banheiro e trouxemos muito da gente pra cá. O apartamento se transformou demais entre o momento em que visitamos e agora, com a gente morando aqui. Cada móvel garimpado, cada objeto, as plantas e o cuidado diário que a gente coloca deixam ele ainda mais gostoso! E o bairro é uma delícia, fazemos tudo a pé e a gente gosta de conhecer a vizinhança! Descobrir a melhor padaria, ficarmos amigos do moço do café, do chef do restaurante grego aqui do lado, da moça do brechó, do barbeiro que já é até amigo do Arthur e por aí vai! O que não pode faltar em uma casa “brasileira “? Música, lógico!!! E sempre um espacinho pra dançar, sozinho ou à dois. Se for pra escolher algo a mais, plantas, um cesto de frutas e um azeite de dendê também são tiro e queda pra matar a saudade. Falem um pouco da decoração da casa, se foi garimpo, se foi algo que veio de família, se trouxeram do Brasil ... Casa é um conjuntão bem lindo de emoções e isso é estampado nas nossas escolhas também. Garimpar muito, juntar o que era da família (como a penteadeira de madeira e mármore) com lembranças de viagens (tem Itália, Amsterdam, Bahia e Búzios nos detalhes por aqui). Enquadrar uma foto nossa num barco ou o convite de um show especial que está pra acontecer (o dia em que conhecemos o Jorge Aragão no Circo Voador). Colocar a areia da praia onde decidimos nos casar num potinho de vidro (que fica na sala) ou a foto de um amigo talentoso de uma rua de Botafogo. Tudo isso é a gente. Tem o móvel de louças anos 70 na sala, o espelho vintage encontrado por 20 euros e as poltronas design que encontramos garimpando online. Até um dos violões foi garimpo numa 'brocante' que estava rolando aqui na frente de casa. Pra melhorar, só quando os amigos estão aqui. Receber, comemorar e cantar com os nossos amigos, é um dos nossos programas favoritos. Respostas em uma palavra (ou mais): O que não pode faltar numa casa: luz natural, violão e uma boa cozinha Paris ou cidade brasileira onde viveu e por quê: Rio, depois Paris, depois Rio, depois Paris... Lugar favorito em Paris: Difícil escolher, mas acordar e terminar o dia em casa é sempre a melhor parte Vintage ou contemporâneo: Vintage Cor favorita: Verde (Arthur) e Azul (Manu) Comida favorita (de qualquer país): Muito difícil essa pra gente (kkk). Amamos muita coisa, mas um dia de cardápio perfeito pra gente seria: Café da manhã com tapioca, bolo de cenoura e mamão Almoço com tomates daqui da França (os melhores!!!), bobó de camarão, cervejinha gelada e pastel Lanche com croissant pra Manu e pão de queijo pro Arthur Jantar com um italiano bem maravilhoso Estilo musical: Samba Fotos: Arthur Guézou
Uma cebola, duas vidas, várias camadas
Depois de 20 anos vivendo literalmente “nas costas” do Castelo de São Jorge, em Lisboa, os companheiros Sérgio Condeço e Marco Gonçalves decidiram rumar para outras direções, cansados do excesso de turistas, Airbnbs para todos os lados e poucos vizinhos com o mínimo de intimidade para jogar conversa fora. Trocaram uma casa de 1850 que foi restaurada e transformada num open space por um apartamento à moda antiga, com todos as divisões de uma casa tradicional. “É uma volta ao passado, com espaços definidos. Gostamos das cores originais das paredes, que foram mantidas após a mudança, e da paleta mais divertida e aconchegante”, explica Sérgio. Natural de Azinhaga do Ribatejo, a cerca de 100 Km de Lisboa, Sérgio é ilustrador e proprietário do Cebola Atelier-Loja (@cebola_atelier_loja, no Instagram), um espaço para exposição e venda de peças de artistas, livros e ilustrações. Marco é psiquiatra e natural dos Açores, autodenominado “jardineiro fiel”, por ser responsável pelas plantas que habitam o apartamento. Dos vários objetos que decoram a casa, alguns mais antigos, outros mais contemporâneos, muitos foram achados na rua, doados por amigos ou vizinhos ou mesmo comprados. A mesinha de centro que está na sala de estar, por exemplo, foi doação da vizinha do prédio atual pouco antes de ser largada em uma calçada qualquer de Lisboa. Embaixo do “presente” da vizinha, um tapete belga amarelo e azul, felpudo, propício para largar os pés depois de uma boa caminhada. A escultura japonesa em cerâmica foi encontrada no lixo no Monte Fuji, no Japão, que ingenuamente tem desenhada a genitália na base da peça. Os pratos de parede ilustrados com fotos, do artista brasileiro Paulo Alexandre Azevedo de Oliveira, foram adquiridos no Museu Thyssen-Bornemisza, em Madri. A icônica imagem do filme La Dolce Vita passou por uma intervenção do fotógrafo Marcelo Tabach, e ganhou uma bonequinha em algum canto da obra. O candeeiro foi presente da comunicadora Inês Maria Menezes, grande amiga do casal (também entrevistada pelo blog do Mathinna). Cada peça do apartamento remete a algum momento da vida deles, às vezes mais relevante, às vezes algo mais corriqueiro. “Há peças que nos transportam para diferentes experiências ou sentimentos, mas todas são a nossa vida, os momentos que vivemos. Pode ser uma peça achada no lixo ou uma terrina da sopa da avó do Marco. Acima de tudo, é preciso ter personalidade. Mas “tudo o que é sólido desmancha no ar”. Em algum momento, os objetos que hoje decoram o apartamento podem ganhar um novo lar, numa autêntica sessão desapego do casal. “Acho que os dois temos apego enquanto dure. Como tudo na vida, e falando de objetos, pode haver um dia que já não nos faz sentido manter algo. Os objetos só são nossos durante períodos de tempo. Depois, e se ainda estiverem inteiros, passam para outras pessoas”, conta Sérgio. Assim como a cebola que deu nome ao Ateliê-loja do Sérgio, com suas várias camadas, é possível dizer que o apartamento do casal é também um espaço que mistura vários estilos, onde várias histórias se cruzam, onde o velho harmoniza com o novo, o vintage com o contemporâneo, o preto e branco com as cores vivas. Mas tudo sempre com muita personalidade. “Custa-nos ver decorações que podiam ser um stand de uma loja”. Respostas em uma palavra: Comida portuguesa favorita? Marco: Umas boas amêijoas. Sérgio: qualquer bacalhau Comida favorita em geral? A carbonara do Marco é a melhor que conheço. Um lugar favorito de Lisboa (ou de Portugal) Qualquer ilha dos Açores. Livro de cabeceira? Autor(a) favorito(a)? O Elogio da Loucura de Erasmo de Roterdã Tem algum hobby? Ou mais de um? Não.
Tudo o que se vê é arte
Nesta entrevista para o blog do Mathinna, a curadora, pesquisadora e diretora de arte Felipa Almeida conta um pouco dos seus projetos envolvendo arte e artesanato portugueses, sobretudo a cerâmica, e do trabalho que desenvolve no seu estúdio criativo, uma casa no simpático bairro de Campo de Ourique, em Lisboa, onde "cultiva" uma extensa coleção de peças da tradicional cerâmica de Portugal e obras de diferentes artistas, entre outras atividades que celebram a cultura do país. Ali, para onde se olha, tudo é arte. Felipa nasceu em Lisboa, em 1979, mas passou boa parte da vida no exterior. Cresceu na Suíça e estudou em Paris e Londres. É formada em História de Arte, Estudos Curatoriais e História de Design. Em 2006, com 27 anos, regressou a Portugal e nunca mais quis ir embora. “Vim porque sempre tive curiosidade de saber como seria viver aqui”. Como começou sua paixão por cerâmica? Alguma influência? Acho que a paixão pela cerâmica foi acontecendo. Um marco importante foi o projeto para os interiores do hotel São Lourenço do Barrocal, no Alentejo, que fiz com a Ana Anahory, que era a minha sócia no ateliê AnahoryAlmeida. Nesse projeto, aproveitamos o fato de ser no Alentejo para pesquisar sobre o artesanato local, e foi aí que começou todo um fascínio que nunca mais parou. Seguiu-se a vontade de alargar a pesquisa a outras regiões de Portugal, a outros centros oleiros, e a conhecer outras artes, e a partir daí também comecei a comprar algumas peças. Sem perceber e sem antecipar, comecei uma coleção de cerâmica portuguesa. Fale-nos um pouco da sua coleção particular. Quando começou? Antes de me apaixonar pela cerâmica, estudei História da Arte e sempre tive um fascínio por pintura – que continuo a ter – e a coleção faz-se um pouco desse diálogo apresentado entre a pintura e a cerâmica. Claro que também sou sensível ao tecido e aos outros materiais, mas os dois meios que mais me fascinam são a pintura e a cerâmica. O que gosto na coleção é de os fazer dialogar e coabitar sem qualquer complexo, porque acaba por se completar. Tenho lido bastante sobre artistas – sobretudo mulheres portuguesas –, e há pouco tempo estive a ler sobre a Vieira da Silva e descobri que ela também estava passando a vida a ir à procura de peças de artesanato, e não me espantou nada! O Eduardo Viana também pintou peças de artesanato. E já vi, em várias fotografias de ateliês de artistas, que as figuras estão lá sempre. Portanto, não sou a única com essa vontade de ver as duas artes juntas. Realmente há aqui um diálogo e certamente há uma relação com as raízes, e com outras formas de expressar arte que é muito intuitiva. Como surgiu a ideia do ateliê e o projeto de expandir o negócio com a representação de artistas locais? Pode explicar um pouco sobre os seus projetos e como divide o seu tempo? No espaço atual, funcionou meu ateliê de arquitetura e design de interiores durante nove anos, o qual foi fechado em 2020. Não queria perdê-lo, mas também queria dar-lhe alguma vida – e na época só tinha um quarto das peças que tenho hoje na coleção. Então comecei a alugar algumas salas para amigas que também trabalhavam com arte e uma delas me deu a ideia de fazer o primeiro Pop Up. Estávamos em plena pandemia de COVID 19, as feiras eram todas canceladas, e os artesãos reclamavam que tinham peças em estoque e não podiam escoar, porque não se faziam os mercados de fim de semana onde habitualmente as vendiam. Decidi então fazer uma “Feira Não Cancelada” e levar as peças que os artesões tinham disponíveis. Essa foi a primeira Pop Up, em dezembro de 2020. Gostei tanto do processo, de ver o espaço vivo, a ser visitado e de poder partilhá-lo que tomei gosto e comecei este ritmo de duas feiras por ano. Entretanto, também fui ocupando outras salas com a coleção e deixei de alugar a outras pessoas. Neste processo, também têm surgido, graças às peças da coleção, temas para as exposições e inspirações para os artistas – que depois de verem as peças encontram uma cor, um padrão, uma história, um formato, ou qualquer outra coisa que os inspira e que dá o ponto de partida para novas peças. Este diálogo tem sido vital para organizar as exposições. Portanto, é uma coleção que eu sinto viva por estar a dar sentimentos, por estar também a ajudar na criação de peças novas, por ser uma referência, uma fonte de inspiração e um testemunho de um legado. Quanto ao meu tempo, é dividido entre o passado e o presente. Existe uma coleção – que está a ser catalogada e fotografada –, e o tempo que passo em feiras, leilões, galerias... e viagens por Portugal. Depois existe uma parte da edição de livros, que tenho estado a fazer com o estúdio do alhures, com a Maria Restivo, com quem comecei um projeto sobre Coleções Privadas de Arte Popular e Artesanato em Portugal – estamos agora a trabalhar no segundo livro das Coleções. Ao mesmo tempo, também fizemos algumas publicações sobre objetos específicos – como os Pratos Falantes –, e agora preparamos uma nova publicação que sairá em junho para acompanhar uma exposição que vou fazer. Também trabalho num livro sobre Casas Portuguesas com História, com Ana Anahory e Birgit Sfat. Portanto, acho que os livros de hoje ocupam uma parte importante do meu dia. Depois, há as exposições, que no início eram só no meu ateliê, mas que começaram a se espalhar para outros espaços – o que me interessa bastante porque de repente são outros contextos e outras conversas. É o que vai acontecer em junho, na Galeria Platão, em Évora, que para além de ser outro espaço é também noutra cidade, o que me traz alegria por alargar o campo de estudo e me possibilitar conhecer outro público. Quantos artistas tem no seu portfólio? Relativamente às exposições, diria que estão entre os 80 e os 100 artistas. Tento sempre, em cada exposição, trabalhar com artistas com quem nunca trabalhei e manter outros com quem tenho trabalhado. Mas, no fundo, o que realmente define os artistas que vão trabalhar em cada exposição é o tema. É a partir do tema que pensamos nos artistas que possam de alguma forma identificar-se, ou cujo trabalho já toca nesse tema, ou por curiosidade em ver como responderiam a um tema que não é tão óbvio para eles. Mas é sempre o tema que dita quais artistas serão convidados e/ou procurados, para haver sempre uma parte de descoberta e de novos encontros. A ideia é só trabalhar com artistas locais ou há espaço para parcerias com artistas de outros países? Até agora tem sido assim (somente com artistas locais). Muito porque sinto a necessidade de afunilar, para ficar focado e não me dispersar muito. Em relação à coleção, sou diversa – só podem ser peças produzidas em Portugal –, e tenho adotado a mesma lógica de expor apenas peças de artistas que trabalham em Portugal – não precisa ser português. Mas apenas por uma questão de coerência com a pesquisa, para poder ir mais a fundo nos temas envolvidos e para me concentrar. Contudo, não gosto de dizer que nunca e quero manter a mente aberta. Mas na verdade, neste momento, o que me faz sentido, por uma questão de tempo, é concentrar-me apenas nas peças feitas em Portugal. Quanto seu ateliê também está presente em sua casa? Ou a decoração da casa é muito diferente do ateliê? A casa e o ateliê têm muitas semelhanças. Mas em casa são mais as pinturas e no ateliê mais as cerâmicas. Não vivo sozinha, tento respeitar as outras pessoas, e tenho filhos, logo há um perigo eminente para as cerâmicas e daí existirem menos em casa. Mas há um fio condutor nas peças que você compra e esse olhar é obviamente o mesmo. A cerâmica portuguesa é conhecida em todo o mundo, inclusive muitas empresas de outros países obrigam a fabricar as suas peças/coleções aqui. Há algum risco de a cerâmica tradicional portuguesa, em especial a pintada à mão, ser substituída por estilos contemporâneos que nem sequer remetem à cultura local, ou às diversas culturas do país? Quando falamos de cerâmica feita por encomenda, falamos de um ambiente fabril e de uma escala completamente diferente. No dia-a-dia, nas olarias, onde estão os artesãos a produzir peças artesanais, não sinto esse risco porque a escala é pequena e continua a ser bastante íntima, não existe a mesma capacidade de resposta e ainda bem, porque se mantém humana e feita à mão dentro de uma intimidade. Não me parece que haja risco de se perder uma identidade local, porque são padrões que são transmitidos há muitos anos e que já fazem parte da nossa identidade, sem termos essa consciência. Por isso, não me parece que exista um grande risco de desvirtuar isso. Fotos: Carol Lancelotti
Para assuntos de de(coração), fale com ela
“Quem faz o que gosta não trabalha nunca”. A frase é atribuída ao filósofo Confúcio, mas poderia, com algumas considerações, ter sido pensada pela jornalista e escritora portuguesa Inês Maria Meneses. Nascida em Lisboa, em 1971, ela trabalha desde os seus 16 anos. Hoje, escreve semanalmente para o site do jornal Público a crónica/podcast “O coração ainda bate”, que faz a partir de sua própria casa. Também tem dois programas na Rádio Antena 1, o “Fala com Ela”, no ar desde 2004, e “O Amor É”, juntamente com o psiquiatra Júlio Machado Vaz, esse último desde 2008. Também tem vários livros publicados, o mais recente deles, “Linhas de Valor Acrescentado”, foi lançado em março deste ano. “O meu hobby mistura-se com a minha profissão. Escrever, gravar, ligar o microfone e contar histórias. Tenho sorte! Tenho bastante tempo livre, que gasto com pequenos trabalhos que me dão prazer. É um privilégio, mas já trabalho desde os 16. Agora, posso descansar mais”, destaca Inês. Depois de ter passado boa parte da vida no Norte de Portugal, mais especificamente em Mindelo, uma aldeia com praia, a vinte quilômetros do Porto, ela voltou para Lisboa com pouco mais de 20 anos. Desde 2010, vive em um apartamento no tradicional bairro de Alvalade, juntamente com seu companheiro, o músico e compositor Tozé Brito. “Gosto da proximidade das coisas. Aqui, faço tudo a pé. Gosto das avenidas largas, das árvores, do pequeno comércio, dos bons restaurantes, de tratar as pessoas pelo nome”, conta. Quem tem a oportunidade (e o prazer) de conhecer o apartamento do casal, irá se deparar com uma coleção de peças, quadros e móveis de extremo bom gosto. Mas o que mais atrai é o conjunto da obra, como se cada pedacinho de parede fosse meticulosamente pensado e carregasse uma história em si. “Escolhi sozinha quase tudo que faz parte da decoração. Agora, a casa já está cheia, mas no início andei por becos e ruas duvidosas a mergulhar em lojas cheias de peças antigas. Cheguei a resgatar um lustre de um amontoado de lixo. Acho que nem o dono da loja sabia que o tinha lá”, conta Inês, que também gosta de sair a garimpar. “Sinto-me muito atraída pelo que já tem história e conta várias dentro de casa. Gosto de peças antigas. Procuro sem destino ou elas encontram-me”. Entre os diversos objetos que compõem a decoração do apartamento, destacam-se o armário vermelho de hospital, com mais de 100 anos, o gaveteiro amarelo de dentista, que veio de São Paulo, e o espelho que está na parede da sala. “Gosto muito também do candeeiro nórdico, colorido, uma das peças que comprei a estrear”. Para ela, na decoração de uma casa não podem faltar flores e objetos que contém histórias. “A decoração não pode ser inconsequente”, diz Inês. Respostas em uma palavra (ou mais):Interior ou vida urbana? Praia/campo e cidade. Não me separo de ambas. Divido o meu tempo entre a aldeia com mar e a cidade efervescente.Peças antigas ou novas? Antigas, sem dúvida. Têm que ter já um mistério adquirido.Principal refeição do dia? Jantar!Comida portuguesa favorita? Filetes de sardinha do Pap’Açorda (com arroz de berbigão)Comida favorita em geral? Peixe. Canção favorita? God Only Knows, dos Beach Boys.Livro de cabeceira? Poesia em volta. Até a que não está em livro.O que é um bom dia para Inês? Um dia sem horas e que termine com um jantar de muitas horas. Texto: Marcelo de Andrade Fotos: Carol Lancelotti
“Quando Paris alucina”
“Era pra ser”. Desde que começou a trabalhar na filial brasileira da L’Oréal nove anos atrás, no Rio de Janeiro, o sonho de Mariana Vianna era conseguir uma transferência para a sede da empresa em Paris. Objetivo alcançado em 2022! Logo na primeira semana vivendo na “Cidade Luz”, ela conheceu o francês Arthur Guézou, video maker nascido na Bretanha, oeste da França, e que também havia se mudado para a capital em 2017 em busca de novos desafios na profissão. “Foi o trabalho dos dois que nos fez vir para cá e por isso acabamos nos encontrando. Aqui é o centro da França, onde há mais oportunidades, mais movimento, mais coisas acontecendo”, conta Mariana, que trabalha com pesquisa de consumidor para makeup. Há um ano e meio, o casal decidiu se mudar para um apartamento mais espaçoso. No processo de busca, encontraram a nova casa logo na primeira visita. “Quando entramos aqui e vimos a quantidade de janelas sem prédio na frente, eu já coloquei na cabeça que seria ele. O desafio foi fazer o Arthur imaginá-lo mobiliado, pois não tinha nada – nada mesmo. Mas acabamos nem visitando outros. Ficamos por aqui mesmo.” O apartamento fica localizado no Jourdain, ou “Village Jourdain” para os íntimos, por ainda conservar uma energia bem bairrista, de cidade pequena. “Foi um grande achado. Conhecíamos parte da região, mas não esse cantinho. Estamos ao lado do maior parque de Paris, o que deixa nossa cachorra Theodora felicissima. Ao mesmo tempo, estamos perto de um bairro de vilas bem residencial e a 10 minutos de Bellevile, que tem bastante vida. A mistura da calmaria com o agito é deliciosa – bem como a gente gosta”, destaca a carioca. Do novo lar, Mariana diz que a varanda e a cozinha, semiaberta, são especiais, principalmente porque o casal adora receber amigos em casa. “São dois ambientes muito amigáveis para uma casa cheia. Inclusive, foi esse jeito em comum de lidar com a casa, de ter prazer de receber os amigos que deu aquele empurrãozinho para morar juntos”. A decoração tem de tudo um pouco e a ideia é deixar o apartamento cada vez mais com a cara do casal. “A gente não gosta muito de modas para “vestir a casa”. Eu, particularmente, acho que é o nosso bem mais atemporal. É muito mais sobre a gente do que sobre uma estética especifica do momento. Mesmo que a gente esteja sempre aberto a uma mudançinha aqui e acolá”. As peças que decoram a casa vêm de tudo o que é fonte: tem coisa nova, tem garimpo (eles adoram uma feirinha de antiguidades), tem coisa antiga que já estava com um ou com outro, tem presente de amigos e da familia e tem lembranças trazidas de viagens. “Eu acho que as peças que vêm de outros lugares têm um papel importante de contar histórias. É como se a gente trouxesse um pouco de cada viagem pra dentro da nossa casa. E a fotografia do Arthur também entra muito bem nessa missão de representar memórias, além de ajudar a vestir as paredes”. Na cozinha, por exemplo, há várias fotos dele ligadas à comida (no Bira, restaurante favorito da Mariana no Rio, e que fez questão de levá-lo), no Japão, numa viagem que ele fez a Ásia, na China, numa feira do Jardim Botânico, entre outras imagens. “Na sala, há um pequeno espaço que homenageia o mar, tão poderoso pra mim, e a foto grande de Hong Kong, numa das recentes viagens que ele fez sozinho. Eu também trouxe um pouco das memórias de familia, com fotos do meu avô, da pintura da minha avó e de algumas peças trazidas de Portugal, onde meus outros avós nasceram e cresceram”. Para Mariana e Arthur, numa casa cheia de misturas culturais, não pode faltar aconchego. E também flores, comida e bebida. “Desde que começamos a montar o apartamento, queríamos ter uma casa gostosa, confortável, tanto para mim, que venho de outro país, quanto para o Arthur, que vem de outra região da França, e também para todos os nossos convidados e hóspedes. Sempre imaginamos a nossa casa como um ponto de encontro, que fosse colo, que fosse o maior prazer da volta de uma viagem. Diria até que o ato de receber é uma das nossas linguagens de amor mais presente”. Fora a rotina de trabalho, os dois não têm muitas regras para curtir a vida e passar os dias. “A gente é meio tema livre, faz o que dá vontade. Adoramos ficar em casa, sobretudo em dias de ressaca e de inverno chuvoso”. Também gostam de testar um restaurante novo, explorar uma nova jam de jazz ou voltar a um lugar que viraram fãs. E a rotina da casa em si, é de receber. “Nossa casa é um hotel. Se você quiser vir, precisa avisar com antecedência para entrar na agenda”. “Uma bela mistura cultural” é a melhor forma de definir o casal. São dois grandes curiosos pela vida, por manifestações artísticas, pela gastronomia e pela arte de receber. “A gente se encontra tanto em pequenas coisas do cotidiano, quanto em interesses e valores similares mesmo que de culturas bem diferentes (mas complementares!). A gente aprende muito um com outro, e tem uma relação de muita parceria e respeito. Respostas em uma palavra (ou mais): O que não pode faltar numa casa: aconchego Paris ou Rio (ou os dois) e por quê: Paris para viver, Rio para passar as férias porque essas cidades se completam Lugar favorito em Paris: Paris Vintage ou contemporâneo: a mistura deles Foto PB ou colorida: colorida Cor favorita: depende do dia Comida favorita (de qualquer país): arroz feijão e farofa Estilo musical: que dê para dançar Texto: Marcelo de Andrade Fotos: Arthur Guézou
Meu nome é “Vintage”, mas pode chamar de Joana Seixo
Apaixonada por moda e pela estética do passado, a portuguesa Joana Seixo viveu em Lisboa até praticamente os 38 anos. Hoje, aos 40, mora em Tomar, cidade do centro de Portugal, onde alterna seu tempo entre a venda de roupas online, as feiras de antiguidades, o “pastoreio” de suas quatro cabrinhas, Milano, Roma, Oliver e Nico, e de seus cães Bailey e Lira.